(Araucaria) Migração para do AM para o FM, a quem interessa?

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Quinta Outubro 1 12:02:30 BRT 2015


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ART - PY2KJ



"Migração para do AM para o FM, a quem interessa?

No dia 7 de novembro de 2013, foi assinado pela presidenta Dilma o 
Decreto 8.139, que trata sobre a extinção do serviço de radiodifusão 
sonora em ondas médias de caráter local. Este decreto permite que as 
emissoras AM (ondas médias) possam migrar para o FM (VHF) mediante 
pagamento de um valor de adaptação de outorga, tido como exorbitante 
especificamente para emissoras AM locais. Caso as mesmas, optem por não 
migrar para o FM, deverão requisitar o reenquadramento da outorga para 
caráter regional, com maior potência, caso contrário a outorga não será 
renovada. Emissoras de maior potência (regionais ou nacionais) também 
podem solicitar a migração para FM.

A faixa de AM está compreendida entre 540 kHz e 1610 kHz, na faixa de 
Ondas Medias, e possui características de propagação muito 
interessantes, permitindo que uma emissora consiga transmitir seu sinal 
através de regiões com topografia acidentada, pois a emissão tende a 
acompanhar o perfil do terreno. No período noturno um sinal em OM é 
refletido pela ionosfera, permitindo que uma emissora possa ter alcance 
de centenas de quilômetros de raio.

A faixa de FM está compreendida entre 88 MHz e 108 MHz, na faixa de 
VHF. Sua principal característica é a direcionalidade, que pode ser bom, 
ou pode mesmo prejudicar, pois essa faixa de frequência se propaga de 
forma análoga à luz, sempre em linha reta, sendo bloqueada ou refletida 
por obstáculos naturais e artificiais, como montanhas, edifícios, 
grandes construções, etc. Seu comportamento não varia significantemente 
de dia ou de noite.

Com o uso do padrão de rádio digital, Digital Radio Mondiale (DRM) é 
possível a digitalização de todas as bandas do rádio, tornando 
totalmente desnecessária essa migração.

No contexto do Decreto 8.139, uma emissora OM que opte por não migrar 
para o FM, poderia passar a transmitir em digital utilizando o padrão 
DRM, transmitindo no modo simulcast (simultâneo) AM/DRM, que mantém o AM 
analógico inalterado, preservando o parque de antenas e a maioria dos 
equipamentos. O sinal DRM no modo simulcast é posicionado em um único 
canal adjacente ao sinal AM.

Muitas emissoras em AM que usam transmissores como Nautel ou BT, por 
exemplo, já estão prontas para o DRM. Na Índia as emissoras em Ondas 
Médias já estão transmitindo em simulcast AM/DRM, e receptores 
compatíveis com DRM já estão sendo feitos nacionalmente. Atualmente são 
mais de oitocentos milhões de habitantes na Índia cobertos com sinal de 
emissoras transmitindo na faixa de AM (Ondas médias) em DRM.

Uma estação de rádio em Ondas Médias (AM) transmitindo em DRM tem seu 
áudio com qualidade superior ao de uma emissora FM analógica. Além 
disso, o rádio digital permite a multiprogramação, áudio 5.1, recursos 
como envio de textos e imagens, conteúdos multimídia, alerta de 
emergência (EWF) e outros serviços, como aplicações interativas para o 
GINGA, que é a plataforma de interatividade presente na TV Digital, e 
também já definida para ser utilizada com o DRM.

Enquanto alguns países já estão desligando o FM analógico, o Brasil 
está indo na contramão da evolução tecnológica, propondo a migração de 
um sistema analógico em Ondas Médias (AM), para um sistema igualmente 
analógico em VHF (FM) e com mais um agravante: o espectro da FM em VHF 
nos grandes centros está lotado. Por que não evoluir o sistema de AM, do 
analógico para digital, a um custo muito menor, preservando uma grande 
parte dos equipamentos hoje existentes e transmitindo um áudio de 
excelente qualidade, e ainda com um consumo de energia muito menor?

Por que não repetir o sucesso do Sistema de TV Digital Brasileira, que 
já está sendo adotado por vários países?

Outro ponto muito importante que não podemos omitir é que muitas 
emissoras em Ondas Médias (AM), têm um caráter local, atendendo muitas 
comunidades compostas por grupos minoritários. Sua migração para VHF 
(FM) ou um eventual aumento de potência, para se tornarem regionais, 
será econômica e tecnicamente inviável para locais de topografia 
complexa. Portanto, aplicado o decreto vigente em seu formato atual, 
muitas comunidades ficarão “no escuro”. Assim, propõe-se que as rádios 
locais em Ondas Médias que desejarem manter sua abrangência, deverão 
fazê-lo no modelo simulcast AM/DRM.

No entanto, teria sido muito mais interessante do ponto de vista 
tecnológico, para as emissoras que realmente desejem migrar para a faixa 
de FM (VHF), que migrassem já em DRM. Aí sim teríamos uma evolução 
tecnológica no sistema de rádio brasileiro.

É urgente a decisão de qual será o modelo de referência do Sistema 
Brasileiro de Radio Digital para que a agonizante indústria de 
transmissores e receptores nacionais possa colocar equipamentos digitais 
no mercado e volte a vender.

A melhor opção para o sistema brasileiro de rádio digital é o DRM, pois 
em termos técnicos é o único sistema que atende todas as faixas de 
frequência, (OM, OT, OC, e VHF) e em termos de modelo de negócio, é o 
único com código aberto, sem necessidades de licenças para 
desenvolvimento de transmissores e receptores pela indústria nacional. 
Também é possível sua implantação pelas rádios comunitárias, pois o DRM 
funciona em baixa, média e alta potência. A economia de energia elétrica 
é relevante, sendo possível cobrir a mesma área com menos da metade de 
consumo de energia.

O DRM foi desenvolvido por um consórcio de organizações públicas de 
radiodifusão, empresas privadas ligadas ao setor de transmissão e 
recepção, universidades, centros de pesquisas, dentre outros órgãos e 
instituições. O DRM é um padrão totalmente aberto, sendo que todas as 
normas estão disponíveis na Internet, assim como o ISDB-Tb (utilizado na 
TV Digital Brasileira).

Além disso, o codificador de áudio do DRM, é o mesmo da TV Digital, o 
MPEG4 AAC. O middleware GINGA, plataforma para interatividade que foi a 
contribuição brasileira ao Sistema Brasileiro de TV Digital, já possui 
suporte feito pela PUC-Rio para ser utilizado no DRM.
O outro sistema que está sendo considerado para adoção pelo país é o HD 
Radio (HD significa Hybrid Digital), desenvolvido e de propriedade da 
empresa norte-americana Ibiquity. Por ser um sistema proprietário e 
fechado, todos os seus códigos de funcionamento são segredos industriais 
conhecidos apenas pelos seus proprietários. Entre suas características 
conhecidas estão as seguintes:

* Ocupa o dobro da largura de banda do DRM, sem prover uma taxa de 
transmissão superior. O HD Radio, sendo um padrão híbrido, concebido 
para permanecer junto ao sinal analógico, não permitirá um futuro apagão 
do analógico de forma a permitir a otimização do espectro.

* Apesar de funcionar em OM e VHF, as emissoras o utilizam o HD Radio 
em OM nos Estados Unidos estão desligando o sinal digital, por ter uma 
performance muito ruim. Atualmente, são mais as emissoras abandonando o 
HD Radio do que aquelas que estão o adotando como padrão.

* Grande parte do HD Radio é segredo industrial, incluindo o 
codificador de áudio, conhecido como HDC assim como os protocolos para 
transmissão de conteúdo multimídia e outros serviços digitais.

* O HD Radio, diferentemente de qualquer outro padrão da ITU (União 
Internacional de Telecomunicações), para radiodifusão, cobra licença de 
uso do sistema. No momento que a emissora entra no ar uma taxa de 
milhares de dólares é paga, e anualmente as emissoras devem pagam para a 
Ibiquity uma taxa de uso.

* O HD Radio possui poucos modos de configuração, sendo um sistema 
engessado, no qual somente uma empresa controla seu desenvolvimento. 
Essa empresa é a norte-americana Ibiquity Digital.

As diretrizes do rádio digital no Brasil são dadas pela Portaria nº 
290/2010 do Ministério das Comunicações, que indica claramente que o 
único padrão passível de adoção no Brasil é o Digital Radio Mondiale, 
visto que o HD Radio contraria vários parágrafos da portaria.

O Art. 3º da Portaria 290/2010 de 30 de março de 2010, que norteia a 
digitalização do rádio no Brasil, diz:

I- promover a inclusão social, a diversidade cultural do País e a 
língua pátria por meio do acesso à tecnologia digital, visando à 
democratização da informação;

* DRM: Funciona em Ondas Curtas, essencial para as regiões distantes 
dos grandes centros, como forma de integração nacional. Fácil instalação 
e sem a necessidade de infraestruturas complexas. Apenas um pedaço de 
fio e já é possível ouvir uma estação de rádio. Também as rádios 
comunitárias se beneficiariam com a adoção do DRM, pois esse sistema tem 
um ótimo desempenho em baixa potência, o que não ocorre com o HD radio. 
Pode se transmitir até 4 programas muna mesma frequência, opção muito 
interessante para a otimização do espectro de radiofrequência. ATENDE.

* HD Radio: Não promove a integração nacional pois não funciona em 
ondas curtas, ficando restrito aos grandes centros. Não funciona com 
potências baixas. NÃO ATENDE.

IV- propiciar a transferência de tecnologia para a indústria brasileira 
de transmissores e receptores, garantida, onde couber, a isenção de 
royalties;

* DRM: Por ser um sistema aberto, com todos os padrões e normas 
divulgadas publicamente (internet), pode ser utilizado por qualquer um, 
sem a necessidade de pagamento de licenças. ATENDE.

* HD Radio: Sistema proprietário com tecnologia fechada. Não haverá 
acesso à tecnologia e se houver, será restrita e limitada. É uma “Caixa 
Preta”. Há necessidade de pagamento de licenças para transmissores e 
receptores, onerando a fabricação dos mesmos Para a emissora que 
adotá-lo, existe a necessidade de pagamento de taxas para o seu uso, 
taxas essas que aumentam de acordo com os recursos implementados. NÃO 
ATENDE.

V- possibilitar a participação de instituições brasileiras de ensino e 
pesquisa no ajuste e melhoria do sistema de acordo com a necessidade do 
País;

* DRM: Sistema aberto, padronizado por normas internacionais, 
possibilita seu aprimoramento por pesquisadores e desenvolvedores. Um 
exemplo é a contribuição brasileira, com a inclusão da interatividade 
através do GINGA. ATENDE.

* HD Radio: Não há abertura de sua tecnologia e portanto não acessível 
aos pesquisadores. Nada poderá ser acrescentado ao sistema. NÃO ATENDE.

VI- incentivar a indústria regional e local na produção de instrumentos 
e serviços digitais;

* DRM: Isenção de taxas de utilização. Menor custo para toda a cadeia, 
desde transmissores até os receptores e emissoras, barateando toda a 
cadeia produtiva. ATENDE.

* HD Radio: Maior custo para pagamento das licenças de uso e manutenção 
das emissoras. Quanto mais recursos implementados, mais taxas deverão 
ser pagas. NÃO ATENDE.

VIII- proporcionar a utilização eficiente do espectro de 
radiofrequência;

* DRM: Canal único digital, que ocupa o mesmo espaço de um sinal 
analógico, podendo transmitir até quatro programas distintos. ATENDE.

* HD Radio: Utiliza 2 portadoras laterais digitais, além da analógica 
central, ocupando desta forma o espaço de 3 canais. Dificuldade em 
equilibrar interferências entre os sinais digital e analógico. Não 
funciona sem o sinal analógico, ou seja, nunca poderá ser Full Digital. 
Sempre dependerá da portadora analógica. O “delay” entre o sinal 
analógico e digital é grande, incomodando o ouvinte. NÃO ATENDE.

XI- propiciar vários modos de configuração considerando as 
particularidades de propagação do sinal em cada região brasileira;

* DRM: Por permitir diversos modos de transmissão, pode funcionar em 
Ondas Médias, Ondas Tropicais, Ondas Curtas, e VHF, podendo ser 
configurado, de forma a adequar a transmissão de acordo com a 
necessidades da área a ser atendida. ATENDE.

* HD Radio: É um sistema “engessado” não possibilitando mudanças nos 
seus modos de transmissão. Performance insuficiente em Ondas Médias e 
inexistente em OT, e OC. NÃO ATENDE.

O Rádio no Brasil sofre com a queda contínua de investimentos, de 
audiência, de produção industrial e de políticas públicas coerentes. O 
decreto 8139, que trata da migração de AM para FM direciona o setor para 
o passado e para a falência.

Todo o setor de radiodifusão necessita urgentemente que o modelo de 
referência do Sistema Brasileiro de Rádio Digital (SBRD) seja definido o 
mais breve possível pelo governo, principalmente no sentido de dar 
opções sólidas e tecnicamente viáveis para as emissoras em Ondas Médias, 
Ondas Tropicais, Ondas Curtas e VHF (FM), nesse momento difícil da 
economia. Essas ações permitirão que a indústria brasileira possa 
desenvolver e colocar no mercado produtos 100% nacionais e para que a 
sociedade possa desfrutar de um maior conforto e conveniência desse 
importantíssimo meio de comunicação que é o rádio, mantendo-se em 
sintonia com a convergência digital dos meios, sem abandonar a autonomia 
que radiodifusão pelo ar proporciona, já que não utiliza internet ou 
meios cabeados para a sua propagação. Trata-se, portanto, de um meio de 
baixo custo e de contato direto entre o gerador de conteúdo e o ouvinte, 
sem intermediários e sem infraestrutura complexa. Eis o rádio, seja ele 
movido a pilhas, automotivo, ou de mesa.

Diante do imenso potencial que a digitalização do rádio oferece para 
difusores, sociedade e governos implementarem em uma nova geração de 
conteúdos e serviços, esperamos que o Estado brasileiro, assim como na 
TV Digital, invista em pesquisas e políticas que conduzam o rádio 
brasileiro para o futuro, e não para o passado e estagnação.

Assinam esse texto:
Ariovaldo José Dias Lobrito (Técnico em radiodifusão)
Ataliba Zandomenego Filho (Radioamador e Graduando Eng. 
Elétrica-Telemática)
Cláudio del Bianco (Radioamador, Tecnólogo e Analista de Sistemas)
Daniel de Andrade Antoniazzi (Engenheiro Eletricista, Valeo Sistemas 
Automotivos)
Doriedson Alves de Almeida (Prof. Dr, CFI - UFOPA)
Fabianne Batista Balvedi (Prof.a Msc., Arquiteta e Cientista 
Audiovisual, PUCPR / UDESC)
Francisco Antunes Caminati (Prof. Dr., Sociólogo, UNESP)
Hudson Flávio Meneses Lacerda (Dr., Escola de Música da Universidade do 
Estado de Minas Gerais - Esmu/UEMG)
Julibio David Ardigo (Prof. Dr., Eng. Eletricista, Universidade do 
Estado de Santa Catarina)
João Eduardo Ferreira da Silva Filho (Economista, Diretor MTA / 
Digicast Eletrônica)
Lucio Haeser (Jornalista)
Marcelo Akira Inuzuka (Prof. Msc., Assistente do Instituto de 
Informática da UFG)
Marcelo Goedert (Msc., Jornalista, Diretor Audio Fidelity Produções)
Marcelo Parada (Prof. Msc., Eng. Eletricista, FEI)
Marcelo Saldanha - Instituto Bem Estar Brasil
Nils Brock (Prof. Dr., Jornalista e cientista político, Freie 
Universität Berlin)
Paulo Henrique Lima (Prof. Curso de Jornalismo IESPES / Projeto Saúde & 
Alegria)
Paulo José O. M. Lara (Msc., Sociólogo e Cientista Político, UNICAMP / 
Goldsmiths College - London)
Plataforma DRM-Brasil
Rafael Diniz (Msc., Lab. Telemídia / PUC-Rio)
Thiago Novaes (Msc., Cientista Político, UNICAMP)

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