(Araucaria) Reclamar de que?

Leonardo pp1cz em terra.com.br
Quarta Novembro 14 00:13:29 BRST 2012


Boa noite amigos.

 

O radioamadorismo tem muitas opções que podemos fazer.

Entre estas julgo o DX, ates de tudo, uma arte. Exige-se de quem o pratica
não o dom, como nas demais artes, mas muito suor para o aprendizado.

Hoje temos o auxílio luxuoso do DX-Cluster, o que não tira o mérito de quem
consegue fazer o DX.

A ajuda é apenas para localizar onde está o DX, o restante do trabalho
depende de você e da estação que você tem, do seu feeling, de suas
expertises.

 

Quem conhece São Pedro e São Paulo deve saber muito bem o que é aquilo.

Nunca lá estive (e nem pretendo, pois gozo de minha saúde mental, eu acho). 

Hoje num tom de brincadeira comentei num e-mail com amigos que, São Pedro e
São Paulo, estão para mim como Ópera: vá, mas não me chame! – com o perdão
de quem gosta.

 

Fazer um QSO de forma ordeira, rápido, sem tomar tempo e nem atrapalhar os
demais que tentam o QSO ou bater papo com os operadores demonstra respeito
pela atividade e por seus pares.

Os operadores que lá estão, não foram aos Rochedos para bater papo com seus
amigos no rádio. Não estão a passeio e nem compraram um pacote de turismo
(se assim o fosse, teriam sido malvadamente trapaceados, aquilo é um
presente de grego). 

Existem formas muito mais econômicas e confortáveis de se bater um bom papo.

Celulares são uma ótima opção. 

 

Mas se o que nos da prazer é um contato no rádio, ficamos em casa então, no
conforto de nossos shacks, com a família por perto, água gelada, comida,
cama e roupa lavada, um chuveiro para um bom banho, boas horas de sono no ar
condicionado, sequinhos e com o cafuné da Nega Velha...

 

Imaginemos o por que de nossos amigos estarem em São Pedro e São Paulo,
ficar dias e dias num barco pequeno, apertado, todo molhado, ao sabor do mar
revolto, causando toda sorte de mal estares.

 

E nos Rochedos? sem lugar para colocar sequer um colchão descente, terão que
conviver com infestação de piolhos de pássaros que lá nidificam, com os
apertos do local, tomando sol e chuva sem proteção, passando calor, sem um
banheiro descente nem para fazer suas necessidades, quiçá tomar um banho.
Arrebentação do mar que castiga os Rochedos. 

 

Refeições são outro problema sério: se feito na Ilha, há limitações, se
feito no barco (que acredito pouco, pois este deve ter saído para pescar)
existe problema de transporte deste para os Rochedos.

 

Como será a logística deles? E as horas de sono? será que conseguirão
dormir? E em que condições? Quantas horas? Terão ao menos uma boa noite de
sono durante o tempo que estiverem nas Ilhas?

E a água? E as roupas? E o QRM em todas as Bandas, que eles informaram haver
nos Rochedos em função de equipamentos da Estação de Pesquisa permanente nas
Ilhas, sobre assuntos de grande interesse para o Brasil e para a humanidade?


 

Alimentar geradores, instalar antenas, montar barraca, decidir revezamento
na estação, logística, alimentação, destino dos resíduos produzidos, boa
forma física, humor para enfrentar estas semanas longe de casa, da família,
dos filhos, do trabalho, do conforto, da civilização, suportar reclamação
nas Bandas. 

Nesta hora dá saudade de casa, da comidinha de casa, de nossa cama (da Nega
Velha), etc.

 

Além de todo o desprendimento que tem que ter um DX-Pedicionário, custeando
as despesas de deslocamento, etc., estas operações, por mais simples que
sejam, numa Ilha na frente de sua cidade, tem custos, tem logística, tem
planejamento, tem fabricação de antenas, de adaptações, de testes, se
ensaios, de tudo, e tudo é caro.

Imaginemos uma DX-Pedition como a de São Pedro e São Paulo, a de Malpelo,
Conway, com aluguel de barco, alimentação para um grupo.

São algumas centenas de milhares de dólares. O preço de um apartamento de
luxo numa grande cidade.

Muito tempo angariando fundos, tirando de onde não tem, tirando do próprio
bolso para viabilizar uma DX-Pedition.

 

Bom, depois de tudo isto, julgamos que o nosso colega foi parar naquele
cafundó para passear e bater papo conosco. Achamos  que ele deve dar
preferência à nos: ele é meu amigo, ele é brasileiro, ele tem obrigação
conosco, e mais um monte de razões.

 

Dentre nós, tem alguns que de fato necessitam fazer contato um pouco mais
amiúde com eles, são os chamados “Pilotos” das operações e DX-Peditions. 

É alguém ou um grupo de radioamadores que, de suas casas, controlam como as
coisas estão andando, se há problemas, se necessitam de alguma coisa, se
existe alguma urgência ou emergência. Estes, geralmente, têm necessidade de
fazer contato com os DX-Pedicionários para saber destes detalhes, para
passar ou receber QTCs, saber se está tudo bem, dar informações da família e
destes para seus familiares. A função de piloto exige tempo ao dispor do
grupo, para que, em caso de emergência, saiba de que forma agir. Via de
regra os Pilotos são experientes e possuem todas as informações de como
proceder em qualquer caso que algo saia errado – estejam certo, sempre tem
alguma coisa que não dá certo ou sai errado. Vejam o caso de uma DX-Pedition
nos anos 70 do século passado, à Spratly Island (1S) em que o barco foi
metralhado e alguns radioamadores faleceram. 

Em São Pedro e São Paulo, a única forma de comunicação é o rádio, não tem
celular, a não ser por satélite, e neste caso, a ligação tem custo alto.

 

Existem locais no planeta radioamadorístico que são raramente visitados.

São Pedro e São Paulo é um destes.

 

Cada vez que chamamos os operadores que lá estão para bater um papo, tiramos
a oportunidade de um radioamador ao redor do Globo fazer um QSO.

Sunset e Sunrise, amanhecer e anoitecer, são fundamentais para propagação e
as aberturas proporcionadas por estes horários podem ser muito rápidas.

 

O tempo de abertura para se fazer um QSO, dependendo da banda e do local em
que se encontre no planeta, uma estação poderá ter uma oportunidade de menos
e 1 minuto para “tentar” o QSO.

Quanto durou nosso bate-papo com nossos amigos, seja em SPSP Rocks ou com
outra estação rara ao redor do planeta? é talvez (e muito provavelmente) a
diferença entre fazer ou não um QSO. Não para nós, mas para um radioamador
que esteja do outro lado do mundo. Para ele representou uma oportunidade em
um bilhão. Talvez mais fácil fosse ele acertar na loteria.

É a diferença em estar ou não no Log, trabalhar ou não aquele País raro, que
se esperou décadas para fazer este tão raro contato.

 

Os Rochedos estão logo ali para nós. 

Mas numa livre analogia, e Scarborough Reef? Está ali para nós? Não, mas
está o Japão, para a China, etc. 

E se os japoneses, chineses, coreanos, filipinos, taiwaneses, vizinhos
destas pedrinhas perdidas no Mar da China, resolverem bater papo com a
próxima DX-Pedition para BS7, o que você vai achar disto justamente na
janela de abertura de propagação que você terá para lá? 

 

Eu não quero isto. BS7 será novo para mim, no dia em que outros malucos
resolverem ir lá novamente (pois só maluco para fazer uma DX-Pedition para
aquelas pedrinhas).

 

Além de sermos rápidos em nosso QSO e darmos oportunidade para quem ainda
não trabalhou, temos que observar as questões de ética, e respeito á quem
está lá e quem está aqui tentando. 

 

Necessita fazer sintonia, se seu rádio ou amplificador é valvulado? por
favor, use uma Carga Fantasma. 

Não tem? precisa fazer a sintonia no ar? apesar de ser errado, pela nossa
Legislação, ao menos saia da frequência em que está a estação ou onde ela
está recebendo, quando em split.

 

Respeito é uma prática cotidiana.

Como pode um cidadão querer ter o direito de reclamar de políticos
corruptos, de corruptores, de criminosos, de assaltantes, de traficantes, de
terroristas, se ele, como cidadão, e dentro de sua atividade que
hipoteticamente deveria lhe dar prazer, é o primeiro à querer infernizar a
vida dos outros, a não adotar a seriedade, o cavalheirismo e práticas
corretas?

 

Reclamar de um operador brasileiro por que este chama estações de DX e não
exclusivamente brasileiros, é egoísmo. 

 

Chance para brasileiros e sul americanos todas as DX-Peditions têm dado,
especialmente nas que temos sul americanos em seus times, como em HK0NA,
T30PY, 3D2C e agora PT0S.

Reclamar de quem está lá no sacrifício, desde o conforto de sua poltrona, é
no mínimo uma injustiça.

 

Há uma frase na assinatura de e-mail de meu grande amigo Xavier – PY7ZY, que
acho perfeita para finalizar meu extenso e-mail, que diz:

"You can't criticize a DX-Pedition until YOU have actually been in one. Go
there and do it better!".

Numa livre tradução: “Você não pode criticar uma DX-Pedição até que você na
realidade tenha feito uma. Vá lá e faça melhor”

Excelente esta do Xavier, e ele tem experiência para isto, pois já fez as
três Ilhas Oceânicas Brasileiras (PY0): Fernando de Noronha, Trindade e São
Pedro e São Paulo, além de muitas IOTAs e a T30PY. 

 

Forte 73 de PP1CZ - Léo.

 

 

-------------- Próxima Parte ----------
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