(Araucaria) Velocidade de CW em Contestes.
Leonardo
pp1cz em terra.com.br
Sexta Abril 27 00:34:56 BRT 2012
Boa noite amigos.
Ontem li um e-mail trocado entre o Ed – PY4WAS, e não me lembro bem quem
era, reclamando da velocidade (cadência) de alguns amigos quando em
Contestes.
São tantos e-mails que recebo diariamente que eles se perdem e não consigo
achá-los no meio de tanta coisa.
É fato que a cadência acima de 30 palavras por minuto dificulta muito quem
se inicia nesta arte ou quem não consegue acompanhar um ritmo mais rápido.
Esta certamente é uma reclamação legítima, pertinente.
Mas coloquemos algumas situações para tentarmos entender o que se passa no
âmbito dos Contestes em CW ou mesmo em DX-Peditions:
- Estações que querem de fato competir, precisam, necessariamente, usar
cadência acima de 36 ppm. Caso contrário, serão improdutivas.
- Com cadência acima de 25 ppm, muitas estações não conseguem copiar, mas um
número muito elevado de estações competidoras conseguem copiar muito acima
desta velocidade.
- Alguns radioamadores QRS possuem táticas muito interessantes para
conseguir “decifrar” o que está por trás daquela velocidade toda, que vão
desde ficar algum tempo na QRG copiando letra por letra até terem todo o
indicativo, consulta o DX-Cluster (pela frequência da estação), e até outras
técnicas menos ortodoxas, como por exemplo gravar a chamada e depois
escutá-la em velocidade menor (sim, isto existe).
- Existe um pedido que nenhum telegrafista se nega que é o “PSE QRS”. Nunca,
em mais de 27 anos fazendo CW, presenciei alguém que se negasse em baixar
sua cadência depois de um pedido deste. Quando comecei a dar meus primeiros
passos em CW, fazia este pedido constantemente, e nenhuma estação se recusou
em baixar o ritmo ante o meu pleito.
- Normalmente, quando uma estação contesta outra (contestar, não pedir QRS)
já sabe o indicativo de quem se está contestando. Desta forma, a estação de
DX ou no Conteste, não precisa baixar sua cadência, pois pressupõe que quem
o contestou já sabe qual o seu indicativo. Mas se mesmo assim você não
conseguiu entender ou copiar o indicativo, não é erro ou vergonha pedir “PSE
CALL QRS” – certamente ele te voltará com baixa velocidade dará o
indicativo.
- Quando em um QSO ordinário, se uma estação encontra-se numa cadência
menor, a que está rápida, por elegância e prestigiando à quem lhe chama,
diminui imediatamente sua velocidade. Esta é uma regra fundamental e
elementar em CW, um cavalheirismo. Estou mais rápido do quem me contesta?
diminuo minha velocidade. Estou mais devagar, a outra estação normalmente
desce ao meu padrão. Assim o é para quem é um bom telegrafista ou um
gentleman.
- Num bom Conteste, a velocidade média das estações competitivas, geralmente
oscila de 34 a 40 ppm. Isto porque, se estiverem em velocidade menor, irão
perder tempo e tempo em Contestes representam contatos, pontos,
multiplicadores, representa a diferença entre ganhar ou perder. Por vezes as
diferenças de pontuações chegam a soma de poucos pontos, QSOs.
- Outro ponto que devemos levar em consideração são as aberturas esporádicas
ou breves. Se não aproveitar a chance de trabalhar o máximo de estações da
Ásia ou da Oceania, para nós da Região Sudeste, por exemplo, pode-se perder
pontos maravilhosos.
- Com o advento dos Keyers Eletrônicos, praticamente se aposentou (ao menos
em estações em Contestes, que queiram competir) o pica-pau ou manipuladores
do tipo Streight Keyer, e o sinal ficou muito melhor.
- Somos apelidados de Ham não é por brincadeira. Este era um termo jocoso
que os antigos telegrafistas profissionais americanos usavam para nos
designar e acabou ficando até nossos dias. Estes telegrafistas profissionais
possuíam enorme destreza em manipular seus pica-paus em alta velocidade e
com perfeição. Quando estes escutavam um radioamador, que fazia telegrafia
de forma diferente deles, e sem a munheca treinada que os profissionais
possuíam, torciam o nariz. Como diziam que os radioamadores eram ruins de
munheca (daí o termo munhecar? talvez), apelidaram-nos de munheca de porco,
que depois virou apenas porco, ou Ham, em inglês. Com os Keyers e
manipuladores iâmbicos e, mais tarde, com os computadores fazendo este
papel, é difícil hoje se escutar um CW que não seja quase perfeito.
O que ocorre, via de regra, é que o radioamador pode errar no peso que dá em
sua manipulação (nos Keyers Eletrônicos ou nos ajustes do transceptor com
esta função). Estes ajustes devem ser cuidadosamente feitos, para evitar
este problema. Por vezes, escuto estações que não separam de forma correta
as letras e confundem muito à quem escuta. Já um computador é programado, em
seu software de CW, à fazer a separação correta das letras, de acordo com a
cadência que se imprime. Por vezes escuto alguém usando um Vibroplex e
percebe-se claramente a diferença entre uma manipulação eletrônica, de um
Keyer, do rádio ou de um computador, de um pica-pau ou de um Vibro, mas nada
que impeça ou desmereça o QSO. Manipulações diferentes das usuais são um
excelente treinamento para nossos ouvidos, e é sempre bom escutar o bater
saudosista de um Vibro.
- Não se deve julgar quem está em cadência rápida, como alguém que desmerece
a quem está lento. Apenas se quer imprimir um ritmo que se possa trabalhar o
maior número de estações num Conteste ou numa DX-Pedition possível. Vejamos
o recente exemplo do 9M0L. As reclamações foram muitas, principalmente em
telegrafia, pela pouca experiência de seus operadores, que demoravam em
finalizar um contato. Depois eles pegaram o ritmo e se saíram muito bem, mas
foram motivo de muitas reclamações (o que é outro erro lamentável, reclamar
de quem se sacrifica para nos proporcionar um QSO).
- É fato também, e quem é contesteito inveterado sabe disto (seja em CW ou
SSB) de que os americanos não usam ficar muito tempo numa frequência na
tentativa de fazer o QSO em Contestes. Eles não são impacientes, são
práticos: se o QSO é difícil, desista, parta para outra, tempo é importante
num Conteste e cá entre nós: quem pesa mesmo num Conteste são os americanos.
Eles é que enchem os nossos Logs. Isto vem sendo equilibrado, para nós no
Brasil com os europeus, que já fazem presença maciça nos Contestes, mas os
americanos são em muito maior número. Pegue uma abertura para os Estados
Unidos e veja seu escore dobrar com uma facilidade incrível. Agora
imagine-se espantar os americanos por que demoramos muito para fazer um QSO.
Provoca arrepios só de pensar.
Por fim, não podemos ignorar o fato de que quem quer competir tem que ser
rápido, tem que ter destreza, e os grandes campeões e recordistas estão
todos acima de 36 ppm (exemplos entre nós existem em centenas).
Não tenho a intenção, com minhas colocações, em me fazer qualquer afirmação
de que se deva usar QRQ, e tenho sempre o cuidado em descer minha cadência
quando sou contestado, seja em Contestes ou no dia à dia, por uma estação
cuja velocidade seja discrepante da minha. Apenas não acho que devemos
entender a opção de quem esteja QRQ.
QRQ ou QRS, o importante é fazer o QSO, fazer CW, SSB, RTTY, etc.,
participar e prestigiar os Contestes, participar destas festas maravilhosas,
destes encontros de uma comunidade onde estamos inseridos e não deixar que
nossas frequências fiquem vazias e deixar nossos rádios oxidarem por falta
de uso.
Nos vemos nas Bandas... k
Forte 73 de PP1CZ - Léo.
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