(Araucaria) RES: Dois dedinhos e meio de prosa.
py5eg
py5eg em iesa.com.br
Sexta Julho 29 07:43:37 BRT 2011
Ola Leo
Apreciei muitissimo o seu texto e gostaria de pedir permissão para coloca-lo em nossa página GADX, pois acredito que o mesmo será sempre atual..
Grato pela mensagem
Atilano
-----Mensagem original-----
De: araucaria-bounces em araucariadx.com [mailto:araucaria-bounces em araucariadx.com] Em nome de Leonardo
Enviada em: quinta-feira, 28 de julho de 2011 23:38
Para: Araucaria DX Group
Cc: 'Peter PP5XX / PY5CC / PYØFM / PT9ZZ'; 'Cicero Xavier Silva'
Assunto: (Araucaria) Dois dedinhos e meio de prosa.
Boa noite amigos.
Tenho manifestado aqui no Refletor do Araucária minha alegria em ver o crescimento vertiginoso do radioamadorismo de competição e de DX no Brasil.
A melhora da propagação com a aproximação do Ciclo Solar 24 traz ainda mais adeptos do DXismo que estavam num estado de letargia.
Com isto ocorre, de vez em quando, algumas desavenças justamente por que nem todos nós estamos preparados para enfrentar estas situações que nos são agora colocadas.
Tecnologias novas, novas ferramentas e as formas corretas de usá-las.
Não me sinto um veterano, mas lá se vão mais de 25 anos fazendo DX e quase o mesmo tanto fazendo Contestes.
Bem ou mal, aos trancos e barrancos, acabamos aprendendo um pouco com um, um pouco com outro...
Por ser quase o único radioamador PP1 à fazer DX e Contestes, acabo ilhado (nos dois sentidos, afinal estou em Vitória, uma delícia de Ilha) e não tenho acesso à estas inovações e tecnologias.
Nestes anos, sempre ligo para um, mando e-mail para outro, e às vezes ouço ou leio as mesmas perguntas de colegas indignados: você é realmente radioamador? Tem certeza de que não sabe o que é isto? (alô Ivan - PY1YB, meu Guru, olha você aí, hi hi hi).
Pior do que não saber, é o não procurar saber ou mesmo não querer saber.
E tenho sempre procurado auxílio naqueles que mais conhecem.
Desde minha primeira participação nos encontros do Araucária, percebi que não podia mais ficar sem comparecer à estas nossas Convenções para que possa ganhar experiência. Tive um hiato entre os maravilhosos ENCEBRA e os Encontros Araucária, que me fizeram muita falta.
A participação no ano passado, do ARRL 10 desde a ZX5J, junto com Serginho e seus filhos de 14 e 12 anos de idade então, onde fomos vice campeões mundiais, me deu uma experiência fantástica. Estar ao lado de um grande campeão de várias versões de vários Contestes, com a experiência que tem o Sérgio, equivaleu-se à fazer um curso intensivo de tudo o que se deve ser feito para se ter sucesso num Conteste.
Contudo, meus dois dedos de prosa prende-se ao que pudemos perceber nas Bandas com a movimentação de um novo País, o ST0R - South Sudan.
Esta semana, na mesma QRG onde estava a estação de ST0R em 40 Metros sub faixa de CW (em 7.004 para ser mais exato), havia várias horas, pudemos escutar uma estação do Peru que chamava CQ e não saiu da frequência, à despeito das centenas de pedidos e de passarem para ele que a frequência estava ocupada e que tratava-se de um raro DX.
Depois, escutamos também uma estação brasileira que até mesmo tentou o QSO com o colega OA4.
Peru é País que não dá sopa (sem nenhum trocadilho) em 40 Metros todos os dias.
O que houve de errado neste caso?
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Aqui começa a história.
Vou voltar 27 anos no tempo:
Quando comecei á fazer DX, nos idos de 1984, procurei um grande radioamador de então aqui no Espírito Santo, o Patrick - PP1BG, que já não está mais entre nós.
Falei de minhas intenções em entrar para o mundo maravilhoso do DX e perguntei à ele o que fazer para começar nesta atividade.
Ele se calou, olhou para uma estante ao lado dele, passou a mão numa coleção onde haviam mais de 80 revistas Antena-Eletrônica Popular e me disse: leia tudo, depois me procure.
A princípio desanimei ao ver a pilha de revistas na minha frente. Pensei que talvez a tarefa fosse mais árdua do que eu supunha. Mas não me dei por vencido e levei aquele monte de revistas para casa. Me desafiei e me coloquei a meta de ler uma revista à cada 02 dias. Tinha pressa de entrar neste fantástico mundo do DX.
Passados alguns meses volto eu à casa do Patrick que a esta altura me olhou de cima à baixo e duvidou que eu tivesse lido todas aquelas revistas.
Confesso que naquele momento fiquei irritado e o julguei como um sujeito arrogante.
Eu estava satisfeito com meu feito de ler todas aquelas revistas. Qual a minha reação então? Perguntá-lo qual o próximo passo. Para minha surpresa ele se volta novamente para a mesma estante e pega outro monte de revistas e me dá e diz: quando acabar de ler volte aqui...
Quanta frustração. O que ele queria era se livrar de mim. Um sujeito que aparece na casa dele pedindo ajuda para fazer DX, onde já se viu isto?
À mim não restou alternativa à não ser ler todas aquelas revistas. Passado pouco mais de um mês, volto mais uma vez, usando de muita coragem para enfrentar novamente aquele radioamador turrão, inglês, metido à besta.
Mais uma vez aquele olhar de reprovação denotando claramente suas dúvidas se eu teria lido ou não aquele monte de revistas.
Me fez entrar. Desta vez não fomos para seu Shack, que era meu lugar preferido, para ficar vendo aquele TS 430S, meu sonho de consumo naquela época, quando tinha um belo exemplar de um Delta 500 cara preta.
Fomos para a copa de sua casa e ele deixou a pilha de revistas em cima da mesa.
Me ofereceu um copo de suco.
Já passavam das 20:00 horas e ele queria ver o Jornal Nacional e me convidou para ver com ele.
Aceitei.
No intervalo do JN, ele me fez uma pergunta: qual dos articulistas da Revista você mais gostou?
Era um teste, aliás, um quis, afinal, ele era inglês, hi hi hi.
Minha resposta foi de pronto: Gilberto Afonso Penna - PY1AFA. Centrado, divertido, bondoso, profundo conhecedor e sempre muito bem humorado.
Ao que ele me sapecou: me dê outro nome. Minha resposta: Laimgruber.
Outro. Carneiro - PY1CC. Outro, e outro, e outro, até que não restasse nenhuma resposta.
Patrick deu uma risada sínica e voltou a atenção para o JN.
Acabado o Jornal fomos, enfim para seu Shack.
Começo ali minha viagem mágica ao mundo do DX.
Primeira lição: se você não fala bem inglês, ou faz um curso ou aprende o mínimo necessário para fazer DX e não passar raiva.
Nunca se envergonhe de não saber tão bem o inglês ou outra língua. A mesma obrigação que você tem de saber falar outra língua para fazer um QSO normal, o outro radioamador tem de falar português.
Mas se vai enfrentar um pile up, fazer CQ DX ou contestar alguém que chama em inglês, tem que saber se virar.
Ele me ensinou o que era split (que ele apelidava de roleta russa), o que era um pile up, quais os horários de propagação, quem era DX e quem era um QSO dito como ordinário (no bom sentido da palavra), etc.
Foram meses de aprendizado, seja pessoalmente, seja em VHF, sempre acompanhado de uma boa turma de radioamadores ávidos por suas colocações e troca de informações.
Uma coisa que ele me ensinou e que é de suma importância desde sempre e que será até o fim dos dias no radioamadorismo, e que faz parte de nossa Legislação mas que poucos radioamadores o praticam, e que é o mote de minha
história:
Quando entrar numa frequência, esteja certo de que ela está livre.
Não seja um inconveniente, um estorvo.
Se quer fazer CQ, escolha uma frequência; pare nela, escute por alguns instantes. Mesmo estando silenciosa, não é sinal de que não esteja ocupada.
Passados alguns instantes, se dê ao trabalho de perguntar, seja em português ou em inglês, se ele encontra-se livre:
Em Fonia:
- Esta frequência está ocupada, por favor?
- Is this frequency occupied, please?
Repita após algum silêncio e se não houver nenhuma manifestação:
- Esta frequência está em uso por alguma outra estação, por favor?
- Is this frequency in use by anyone please?
Em CW:
- QRL?
(sim, telegrafia tem isto de bom, é sintético. Basta um QRL e uma interrogação e já se sabe que alguém pergunta se a QRG está ocupada).
Neste caso, inicie seu chamado, mas lembrando-se que, ainda que ninguém responda ao seu questionamento, a frequência pode estar em uso por outra estação cuja propagação ainda não deu condições de que vocês se escutem.
Caso isto ocorra após algum tempo ocupando a QRG, não se aborreça ou parta para a agressão ou competição pela frequência, pois muito provavelmente vocês foram surpreendidos por uma abertura esporádica.
Tente negociar quem fica e quem sai da frequência. Como o Patrick era um Lorde, sempre se dispunha à ser ele a fazer QSY. Era um homem admirável.
Esta é uma regra básica e que, se tivesse sido seguida pelo colega do Peru e pelo brasileiro, certamente teria evitado os dissabores que ocorreram na frequência.
O peruano deveria ter escutado a frequência, escutado um pouco mais, perguntado se ela estava ocupada. O brasileiro, assim que pediram à ele o QSY, atendeu. Talvez não escutasse o ST0R, que naquela noite estava bem baixo.
Se você estiver na frequência e escutar este questionamento, responda:
Em Fonia:
- Está sim, obrigado.
- Yes, it is occupied, thank you.
Em CW:
- Yes TU
(este TU de Thank You, simples assim).
No final, eu e o Patrick viramos amigos inseparáveis, até que em 2006 ele ascendeu à uma Classe melhor do que a nossa e foi para a Morada de nosso Pai, me fazendo perder um amigo e um segundo pai.
Mas as suas lições ficarão comigo, como seu legado, até quando me juntar à ele, na Casa de Deus.
Desculpem-me os dois dedinhos e meio de prosa, afinal eram muito mais que 10 dedos, hi hi hi.
Forte 73 de PP1CZ - Leo.
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