(Araucaria) Mais uns cinco dedos e meio de prosa.
WALDIR SOARES
py2wc em hotmail.com
Quarta Dezembro 14 23:34:56 BRST 2011
TENHO ORGULHO DE SER SEU AMIGO, VOCE SIMPLESMENTE TRANSCENDE TODOS OS LIMITES! OBRIGADO POR SER MEU AMIGO KRKFrom: pp1cz em terra.com.br
To: araucaria em araucariadx.com
Date: Wed, 14 Dec 2011 22:40:48 -0200
CC: dxbrasil em googlegroups.com; xavier.py7zy em gmail.com
Subject: (Araucaria) Mais uns cinco dedos e meio de prosa.
Boa noite amigos.
Mais um Conteste acaba e sempre temos
aquela sensação de que poderíamos ter feito melhor, que deveríamos nos dedicar
mais um pouco, que deveríamos melhorar nossas estações, etc.
E assim os projetos vêm à mente e nos
movem para frente, sempre com o objetivo palatável de melhorar nossas estações,
de nos superarmos.
E assim se foi mais um ARRL 10 Meters
Contest.
Tive, mais uma vez o prazer de estar na
ZX5J, em companhia deste nosso irmão, Sérgio – PP5JR e um grupo de
crianças maravilhosas fazendo o Conteste.
Depois de tudo, me perguntei: Eles
fizeram o Conteste conosco ou fomos nós que fizemos com eles? Acho mais provável
que tenhamos sido eu e o Sérgio que fizemos o Conteste com eles, tamanha
desenvoltura e competência com que conduziram espetacularmente a ZX5J. Fomos
meros (e felizes) coadjuvantes.
Usar esta estação, ZX5J, requer muita responsabilidade
e habilidade, pois o ganho das antenas é algo de espetacular, e não é fácil gerenciar
os pile ups, francamente.
Quando em 2009, no delicioso Encontro do
Araucária em Natal, tomei conhecimento deste projeto do Sérgio, fiquei tentado
em participar.
No ano passado, recebi um e-mail do
PP5JR, me colocando ao par de seu projeto de eleger um Conteste do ano, para
que os pequenos pudessem fazê-lo, estar presentes na Banda, com a voz deles,
com o sinal deles, com a competência deles.
O Sérgio me disse de todas as suas
aspirações, e me fez um maravilhoso convite de fazer parte do time deles, como
operador de CW.
Não sei o que motivou o Sérgio em me
convidar, mas conjecturo que talvez seja coisa de Deus, pois só Ele sabe o
quanto eu amo crianças, e estar num Conteste com meio time de crianças, seria
um sonho.
Aceitei imediatamente o honroso convite
e levei junto, já no ano passado, meu filho mais velho, Gabriel, então com 13
anos.
Após a primeira experiência no ARRL 10
de dezembro do ano passado, me vieram lembranças de um passado que parece
distante e parece que foi outro dia.
Aqui começa minha narrativa do por que d’eu
achar o projeto do Sérgio fantástico:
Nos idos de 1979 eu era Faixa Cidadão,
então com 18 anos de idade.
Adorava aquele brinquedo que me
proporcionava uma das mais fascinantes experiências à que um ser humano pode
conhecer: viajar à velocidade da luz e conversar com os mais distantes rincões
do planeta. Havia a barreira da língua para mim, àquela época. Havia também a
barreira de conhecimento, de antena, de rádio, mas minha alegria era imensa e
superava as dificuldades inerentes à pouca experiência deste novo mundo.
Naquela época já esbarrava nos problemas
de clandestinos na Faixa, palavrões que se falavam no ar, brincadeira de gosto
duvidoso, gente fazendo coisas que eu julgava erradas.
Volta e meia ia ao extinto Dentel (hoje
Anatel) e fazia queixas bem humoradas com os fiscais e com a Secretária de então,
Sr.ª Kátia, que nos tratava com uma educação e presteza ímpares.
Dado momento, minhas reclamações
apertaram e a Sr.ª Kátia me sugeriu: Leonardo, por que você não estuda e faz
prova para Radioamador? Ali não existem tantos problemas dos quais você se queixa
tanto.
Aceitei sua sugestão, fiz prova com uma senhora
que também se chamava Kátia, que vinha do Rio de Janeiro aplicar as provas. Todos
morriam de medo daquela senhora corpulenta, mulata, com cara de brava, bem ao
estilo do rigor com que era encava o ofício que desenvolvia.
Fiz a prova, passei para a Classe C e
fui agraciado com o Indicativo de Chamada PU1AAJ.
Lembro-me bem que então comprei um Deltão
500, que freqüentou o espaço debaixo da minha cama por alguns anos, até que eu
tivesse antena para HF.
Mas naquela época eu já tinha feito uma
antena para VHF e tinha um rádio, com os quais fazia dezenas de contatos todos
os dias.
Pronto, o brinquedo estava de volta.
Naquele ano completaria 24 anos de idade
e comecei a fazer DX em 80 Metros, com uma antena W3DZZ em V Invertido com o meu
Deltão, incentivado pelo meu tutor PP1BG – Patrick (SK), que já foi tema
de prosa anterior.
Quantas dificuldades, mas também quantas
novidades se descortinavam para mim naquela época.
Comecei a aprender CW e em pouco tempo já
me aventurava também pelo som da deliciosa música dos DÍS e DÁS do Condigo Morse.
Naquela época me chamavam de “garoto”. Eu era jovem (ainda sou, mas
segundo alguns amigos, um pouco gasto pelo uso) e era considerado por muitos e
chamado de “o futuro do radioamadorismo no Espírito Santo”.
Confesso, com algum rubor, que me sentia
feliz e orgulhoso de ser assim considerado e chamado por tantos radioamadores
que eram meus ícones, e em fazer parte de uma casta que era considerada o
futuro do radioamadorismo.
Lembro-me nesta época, de minhas cartas
trocadas com vários experientes radioamadores de então, como o PY1AFA, PY1CC,
PY2DBU, etc.
Eu era o FUTURO do radioamadorismo
capixaba.
Eu era.
Passados mais de 25 anos, hoje com 50 anos
de idade eu não sou mais o futuro do radioamadorismo capixaba.
Eu sou o presente.
Sim.
Me dei conta que o tempo passou, e com
ele realizei quase todos os sonhos que tinha desde então (ainda falta fazer uma
grande DX-Pedition à P5 na
companhia de alguns amigos – quem sabe).
De futuro eu passei à presente.
E me dei conta também de como esta
atividade, hobby, ou que adjetivo se queira nominar, teve importância em todos
estes anos em minha vida.
Raros foram os hiatos que tive sem estar
ativo no rádio.
Quantas coisas me foram somadas, quanta
experiência, quantos amigos fiz, quantas alegrias e também tristezas e frustrações,
pois estas também fazem parte de qualquer atividade do ser humano.
Aprendi um pouquinho de algumas línguas,
viajei, conheci lugares, pessoas, culturas, culinárias, etc.
Visitei muitos lugares em meu
pensamento, viajei em cada
QSO que fiz, como numa obra de ficção, em que nos tele transportamos,
visitei o shack, a casa, a família, a vila e a vida de tantos de nossos pares com
os quais fiz contato em todos estes anos.
Aprendi história, geografia, geopolítica,
respeito (ainda mais), opiniões... puxa, foram tantas as experiências que não me
permitiria tomar ainda mais o tempo dos amigos que se dêem ao trabalho de ler esta
dissertação.
E as experiências se renovam a cada novo
contato que faço.
Mas estas experiências me mostram que já
passei de futuro a presente.
E qual será a próxima etapa? Passar a
ser passado do radioamadorismo? Talvez sim.
Mas como passar a fazer parte do passado
se não deixar o meu legado às gerações vindouras?
Como poderei fazer parte de um passado,
de uma história, se não contei a minha saga aos que serão o futuro de minha
atividade?
E as experiências, e as culturas, as
alegrias, tristezas, para quem deixarei?
Serei eu ainda capaz de ser o futuro, ou
tenho o compromisso, me deixado pelos meus tutores, de passar a (pouca, talvez)
experiência que tive, para aqueles que, agora sim, serão o “futuro”
do radioamadorismo, como já fui um dia?
Voltando ao presente, me vejo, no fim de
semana passado, no meio de 03 crianças de 13 e 14 anos de idade, participando
de uma competição mundial e internacional de radioamadorismo.
Onde estavam estas crianças? Estavam na
rua? Estavam se perdendo, como temos visto com grande tristeza os nossos jovens
se perderem, seja no álcool ou nas drogas, ou na marginalização, na prostituição?
Estavam sem esperanças, jogados, sem futuro?
Estas crianças estavam em frente a um rádio,
numa competição sadia, conversando com gente de todo o mundo, trocando aquilo
que para eles será de fundamental importância para forjar suas personalidades:
cultura.
Falavam em inglês. E não era um
inglês básico, de quando eu tinha 13 ou 14 anos, em que se aprendia o básico do
básico, como no velho jargão “The book is on the table”, se me
permitem a brincadeira.
Falavam inglês com fluência, com desenvoltura.
Alfa, Bravo, Charlie, Delta, Tango, Mike. Palavras soltas, que para qualquer um
poderia parecer mais um daqueles muitos verbetes gregos que designavam alguma
coisa num passado distante, é o Código Fonético Internacional, declinado com
perfeição pela Bia, Vitor e Dudu, na ZX5J.
Estas crianças foram inseridas por seus
pais no radioamadorismo por alguma razão, mas permanecerão não por uma razão
qualquer, mas por perceberem e descobrirem o quanto esta atividade é lúdica, é
prazerosa, o quanto nos soma.
Porque o Sérgio – PP5JR, e o Mauro
– PP5MCB, fizeram com que a Bia – PU5BIA, o Dudu – PU5FJR, e
o Vitor - PU5DCB, se tornassem radioamadores? Para prosseguir seus legados? Para
terem companheiros que tenham a mesma afinidade? Para que eles conheçam
culturas, línguas, aprendam tantas outras coisas que nos somam o
radioamadorismo? Talvez para garantir o continuação e o futuro do
radioamadorismo, um futuro que já foi os pais deles em que agora o bastão os
será passado? Talvez até mesmo para que eles tenham uma atividade que os leve
para bem longe dos caminhos tortuosos que a vida os oferece?
Amigos, certamente cada um de nós terá uma
resposta, ou mesmo todas elas as sejam, mas é realidade que temos uma nova
casta de grandes radioamadores sendo forjada em nosso país, o que muito nos
orgulha, e que garantirá o futuro de nossa atividade, e se configurará, não
tenho dúvidas, num dos mais firmes pilares que nortearão a vida destes futuros
cidadãos.
Por isto Sérgio, quando você me
apresentou seu projeto, não tive dúvidas de que seria algo grandioso, que
frutificaria, que nos traria alegria.
Alegria esta que para mim, estará
completa quando meus filhos fizerem parte deste maravilhoso time que operou tão
habilmente a ZX5J neste ARRL 10 Meters Contest 2011, e no momento em que a
estação seja operada 100% por eles, somente por eles.
Amigos, miremo-nos no exemplo do Kids
Day, tão bem conduzidos pelos amigos Felipe e Fábio do Rio DX Group. Miremo-nos
nos exemplos dos mais longínquos lugares deste planeta onde hajam crianças
iniciando sua vida radioamadorística e apoiemos estas iniciativas,
multiplicando-as dentro de nossos lares, de nossos shacks, para que tenhamos à
quem passar o bastão, no dia em que não façamos mais parte do futuro do
radioamadorismo.
Neste dia, amigos, passaremos de futuro,
de presente e talvez até mesmo de passado, para fazermos parte da história
desta atividade.
Com minhas desculpas pelo tamanho do
texto, deixo a cada um que teve a paciência em dedicar 10 minutos de seu tempo
para ler este relato, deixo meu mais carinhoso e forte abraço.
PP1CZ - Léo.
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