(Araucaria) Minha aventura e meu aprendizado.

[Alisson Berkenbrock]

Olá a todos colegas da lista.
Meus amigos, como é de conhecimento da maioria aqui, no começo deste mês de
junho, eu e minha esposa decidimos vir embora para o lindo estado de
Roraima, deixando em Santa Catarina amigos, parentes e uma confortável casa
de nove cômodos, 4 aparelhos de ar-condicionado, numa localização
privilegiada da cidade de Imbituba, no litoral sul.
Imbituba é uma pequena cidade, com cerca de 50 mil habitantes. Vive
basicamente das movimentações portuárias e turismo, inclusive no inverno,
quando a cidade se torna palco do campeonato mundial de surf e recebe
celebridades internacionais do esporte.
O clima da cidade é agradável, especialmente no inverno, quando os
termômetros chegam a registrar 0 graus. No verão raramente chega a 35,
fazendo assim, de Imbituba, uma cidade agradável de se viver.
O ponto negativo de lá são os ventos fortes, muitas vezes oriundos de
ciclones extra-tropicais, o que vem a ser um pesadelo para nos
radioamadores, pois o temor de danos nas antenas e torres é constante toda
vez que começa a ventar forte.
No ultimo mês de novembro fomos prejudicados em Imbituba por um forte vento
que veio a derrubar torres, danificar sistemas irradiantes e deixa a todos
de cabelos em pé. Há inclusive quem ainda não se recuperou daquele dia.
Com tudo, pesando os prós e contras, Imbituba é um paraíso para se viver,
banhada pelo oceano Atlântico, com quilômetros de praias, lagoas e enseadas.
Incrível que somente agora, a mais de cinco mil quilômetros de distância
percebo isso.
Estou nesse momento na cidade de Boa Vista, capital do estado de Roraima. Já
senti aqui a temperatura de 37 graus, e suei até em pensamento.
Na minha chegada a Boa Vista fui muito bem recebido pelos amigos Paulo PV8DX
e Edilson PU8TEP, que recepcionaram a mim e minha esposa no aeroporto. Meu
primeiro final de semana aqui foi no sitio do PU8TEP, na cidade de Cantá,
vizinha de Boa Vista. Lá pude ver bandos de papagaios voando livremente,
Pica-paus solto na natureza e até uma pequena jibóia atravessando a rua
calmamente.
Tive o prazer de conhecer vários outros colegas de rádio, como Abílio PV8AZ,
Clóvis PV8ADI, Rubnelson PV8RF, Ivanildo PV8IG, Waghinton PV8ABC e outros a
qual peço desculpas por esquecer seus indicativos.
A cidade é maravilhosa, assim como seu povo, sempre pronto para uma boa
conversa.
Infelizmente nem tudo são flores. Com uma semana aqui comecei a sentir
fortes dores de cabeça, e associei ao calor que eu não conhecia. Após isso
vieram outros sintomas que não deixaram dúvidas; Dengue. Cometi o erro de
não ter tomado a vacina assim que cheguei, mas acredito que mesmo tomando
não faria diferença. Vocês já saberão o porque.
Foram 3 dias de agonia e não tinha analgésico que fizesse minha cabeça para
de dor. Foram mais de uma cartela de paracetamol durante esse 3 dias. Pensei
num momento, certa e esperta foi minha esposa que tomou todas as vacinas
assim que chegou aqui. Bem, logo após eu me sentir melhor quem adoece com a
mesma enfermidade? Minha esposa. Para mim foi a gota d'água. Vê-La naquele
sofrimento foi pior que a própria dengue que peguei.
A todo momento meu humor estava alterado, eu me irritava por qualquer coisa.
É o calor fazendo seus efeitos sobre um corpo acostumado com o clima sulista
de Santa Catarina. Agora imaginem, estamos no inverno. Decidi, não quero
estar aqui no verão.
Conversei seriamente com minha esposa e expus tudo que estava sentindo e ela
percebeu minha angustia. Saudades forte de meu sobrinho Pedro Henrique,
saudades do frio, de nossa casa aconchegante e com sistema de climatização
duplo, saudades de meu irmão Arrison, grande companheiro com o qual
costumava virar noites tomando café e debatendo sobre história, física e
política. O Arrison é meu irmão caçula, temos uma diferença de idade de 9
anos, e portanto me sinto um pouco pai dele. Tenho orgulho imenso pelo homem
que ele se tornou. Marido fiel e pai devotado. Formado e pós graduado em
sociologia, professor exemplar apesar de sua idade. Ele tem apenas 25 anos.
Recordo com carinho nosso ultimo encontro realizado na minha casa, e lembro
dos menores detalhes, inclusive da caixa de pizza vazia na mesa redonda que
tenho na cozinha, da garrafa de refrigerante já quente e das xícaras de café
cheias. Conversamos naquela noite sobre o movimento iluminista, Voltaire,
Montesquieu, Diderot e outros grandes filósofos que mudaram o curso de uma
nação inteira como a França. Em intervalos irregulares vinha meu sobrinho de
4 anos vinha sentar no meu colo e pedir um copo de guaraná. Depois de beber
voltava pra frente da tela de 52 polegadas para continuar assistindo um DVD
de desenho animado que havíamos colocado para ele ver.
Esse meu apego a meu irmão, sua esposa e meu sobrinho foram decisivos para
minha opção de retornar para Imbituba, para perto deles.
Sinto muita falta de meus amigos também, do Tio Edson PP5VK, grande amigo e
conselheiro, um professor sobre instalações de antenas, aterramentos de
estação e sobre a vida em geral. Saudade do Zé Geraldo PU5ATX, grande amigo
e irmão que tinha a paciência de me receber semanalmente em sua casa, e
sempre que chego lá peço café, sento e ficamos conversando sobre os próximos
contestes, DX e por último religião e cidadania. Saudades do Yuri, filho do
PU5ATX, que toda vez que me via chegar vinha puxar papo, brincar. Saudades
da senhora ATX, a Norma, sempre sorridente com uma paciência daquelas.
Sempre que me via já dizia que o café na garrafa foi feito de manhã e já ia
passar um novo para nós.
Outro grande amigo, PP5DA Daniel, sempre pronto pra mexer nas antenas,
levantar antena, baixar, regular, independente do tempo, grande amigo. PP5BK
Marcelo, grande cedablista e amigo. Bem humorado a todo momento, sempre com
uma conversa inteligente sobre radio e antenas.
São tantos que peço mil perdões pelos que faltaram mencionar aqui, mas com
certeza todos estão no lado esquerdo de meu peito.

Apesar dos incontáveis encantos de Roraima, não consigo me habituar com
clima local, e raras são as noites que não choro de saudades de meus amigos
e parentes que lá ficaram.
A decisão final de retornar se deu semana passada, com a aprovação da idéia
pela minha amada esposa. Decidimos então passear por outras regiões, e ela
me levou ao município de Pacaraima, na divisa com a Venezuela, onde ela
residiu por anos quando criança. Visitamos o local onde ela morou, e no dia
seguinte fomos a Santa Elena na Venezuela. Digo a todos, foi uma das
experiências mais ricas e marcantes que tive em toda minha vida. O
aprendizado mudou radicalmente algumas de minhas opiniões. Não escondo minha
tristeza e decepção com o povo venezuelano que trata os brasileiros como
cachorros de rua sem donos. A todo momento havia soldados nos observando,
com exceção no centro comercial, ou seja, gastar aqui pode, mas aproveitar
toda plenitude do passeio não. Fomos muito bem atendidos em lojas de
brasileiros lá, já nas lojas de venezuelanos mal éramos atendidos.
Vi com meus olhos os dois exércitos, brasileiros e venezuelano, com seus
arsenal, tanques, fuzis e blindados. Essa imagem marcou minha visita naquela
região. Pensei nos valores gastos para fabricação de todo esse armamento.
Como seria melhor aplicado se o homem fosse civilizado meu Deus. Enquanto
pessoas passam fome aqui no Brasil, na Venezuela e em outros lugares,
governos gastam bilhões em máquinas construídas para matar seus semelhantes,
tudo em nome de uma soberania fictícia, em nome da vaidade como já disse o
sábio rei Salomão. Percebi como esse mundo está errado, como tudo está fora
de um contexto de civilidade.
Ótima experiência. Se o propósito do Criador ao me mandar para cá foi fazer
com que eu aprendesse a valorizar a vida humana e respeitar meus
semelhantes, parabéns ao Pai, por Ele conseguiu.
Enfim meus amigos, minha passagem está marcada para o dia 6 de julho, e devo
estar descendo no aeroporto de Florianópolis por volta das 23:45. Creio que
após chegar será noite mais longa de minha vida, pois não verei a hora de
levantar e ir visitar todos, mas todos mesmo, parentes e amigos. Amigos de
rádio, amigos de vídeo game e amigos de bate papos no meio da rua. Falando
em vídeo games, outra paixão minha desde a década de 80, jogarei fora todos
os jogos de guerra que tenho. "O mundo gira e numa dessas voltas que ele
deu, girou minha cabeça para a direção do amor e do respeito a meus
semelhantes."
A todos amigos que aqui me receberam, meu muito obrigado e minha eterna
gratidão. Espero um dia recebê-los em minha Imbituba, em minha casa. Vocês
são realmente pessoas abençoadas. Muito obrigado.
Aos que me aguardam, logo estarei entre vocês novamente, numa roda comendo
tainha, tomando café e batendo um papo delicioso sobre mais essa aventura
que tive.
Um forte abraço a todos, e fiquem com Deus.

Alisson Raniere Berkrnebrock
PU5AAD.